O filósofo é um bom líder?

Por 6 de outubro de 2023Artigos, Filosofia, Negócios

Quais são as boas características de um líder, de acordo com os ensinamentos filosóficos? Essa é a pergunta que o psiquiatra e PhD David Brendel busca responder em um instigante artigo na Harvard Business Review.

Frequentemente, manuais militares e de guerra são cultuados como grandes textos sobre liderança. Ainda que possam conter muitos ensinamentos importantes para lidar com as condições efetivamente bélicas do livre mercado, não seriam livros que eu indicaria para extrair lições sobre como lidar com equipes no mundo contemporâneo. Afinal, nem metaforicamente é desejável um líder que coloca parte de seus liderados em
situações de risco de morte, por mais discursos motivacionais que prolate no campo de
batalha corporativo.

Livros como “A Arte da Guerra” ganharam fama, no entanto, pelo seu poderio de motivação individual, pelas suas lições de vida, ou seja, pelo seu arcabouço moral. Isso porque liderar é, sobretudo, adotar um certo tipo de comportamento. Por isso, a formação do líder é eminentemente ética, afinal, Ética é a concepção de um conjunto de valores que justamente balizam as nossas ações.

Assim como podemos buscar ter vidas virtuosas, podemos desenvolver lideranças virtuosas. Para o autor referenciado nesse post, a mera atividade de reflexão contribui para o desenvolvimento das capacidades de maximizar a conquista de objetivos. Brent baseia essa afirmação em estudos de neurociências que associaram a reflexão filosófica ao desenvolvimento das partes do cérebro que está relacionada a avaliações de informações cognitivas e emocionais, além de modular nossa atenção.

Muitos profissionais “C-level” recorrem ao aconselhamento filosófico como uma maneira de constantemente refletir sobre seus comportamentos e melhorar sua relação perante liderados, garantindo assim que todos tenham melhores condições para atingir os resultados pretendidos e serem felizes enquanto o fazem.

A filosofia ensina valores que buscam nos guiar pelas melhores formas de viver. É apenas racional trazer esses ensinamentos para o dia a dia corporativo. Assim, Brent exemplifica que Sócrates e Platão, por exemplo, podem mostrar a eficácia e importância do diálogo, da humildade e de sempre termos em mente que viver é buscar, mesmo para aqueles que já conquistaram muito e que mesmo as nossas mais ferrenhas certezas merecem exame constante, pois podem ser sustentadas por frágeis alicerces.

Outros filósofos também podem trazer valiosas lições: Aristóteles ensina a busca constante pela excelência, que requer foco, ponderação, treinamento e hábito. Os Estoicos mostram a importância do controle das paixões, o que pode evitar diversos contenciosos e fazer com que líderes imponham menos pressão desnecessária a subordinados, adotando comportamentos mais centrados e ponderados.

Assim, um bom líder, mesmo que o faça intuitivamente, busca refletir filosoficamente sobre suas ações, objetivos, valores e comportamentos. O profissional que filosofa se conhece melhor, controla-se com mais eficácia e é mais afeito à busca de resultados do que um líder que trabalha e vive a esmo. Quem pensa melhor, age e reage melhor, via de regra.

Por isso, adote posturas introspectivas e busque constantemente aprimorar seu autoconhecimento. Filosofe, viva e lucre melhor!