Você sabe o que quer? A importância da ética nas organizações

Por 15 de junho de 2022Compliance, Negócios
Imagem ilustrativa de peças que se encaixam no funcionamento da organização.

Quem não sabe o que quer, não sabe para onde vai. A frase, que ouvi reiteradas vezes de meu pai, resume muito bem qual é o papel da ética na vida das pessoas e das organizações. A definição de ética você encontra aqui. Se você ainda não leu, é uma boa oportunidade para entender mais profundamente o que contaremos a seguir.

A empresa era uma das maiores do mercado. Lançava produtos atualizados anualmente e detinha algumas das mais lucrativas franquias e propriedades intelectuais. Parecia ser um caso de sucesso.

Mas, o que por fora tinha de bela viola, por dentro tinha de pão bolorento. O fim começou com uma denúncia de uma ex-funcionária dando conta de que a empresa adotava sistematicamente uma cultura de assédio, que envolvia a promoção de uma cultura agressiva e atentatória contra mulheres e todas as minorias, de um lado, e a proteção contumaz de assediadores, com direito à punição e demissão de denunciantes, de outro.

Como uma bola de neve, o efeito da primeira denúncia gerou uma enxurrada de novas denúncias, corroborando-a e trazendo, cada uma à sua vez, mais camadas de horror ao cenário corporativo daquele lugar. Desnudou-se que aquela empresa sustentava uma imagem pública falsa. Era admirada por seu sucesso econômico, pela posição que ocupava e pela longevidade, mas era na realidade um ambiente de tortura ininterrupta para grande parte das pessoas que trabalhavam ali.

Eu poderia falar da queda nas ações e no faturamento, na deterioração do valor de todas as suas marcas e me ater simplesmente aos incalculáveis prejuízos econômicos que a conduta da empresa teve como consequência. Mas usar o benefício econômico como primeira justificativa para um comportamento minimamente decente é contentar-se com a argumentação do limiar mínimo do aceitável. É ser rasteiro. Pois ética é muito mais nobre que essa argumentação tacanha e egoísta. Mas, sim, a consequência quase inevitável da degeneração moral é a degeneração econômica. Cedo ou tarde. Se você se contenta com pouco, pode ficar com está: uma ética degenerada dá prejuízo.

Mas nós estamos aqui para ir um pouco além do mínimo. Mania de professores. Porque o senso comum nos dirá que faltou ética a essa empresa. Nós diremos que não. Não falta ética porque ética não é um líquido que você coloca em um spray e borrifa mais ou menos em um ambiente. Ética não é sequer redutível ao singular. Existem éticas. Conformações de valores e escolhas que guiam o comportamento.

Não faltou à empresa nenhuma ética. A questão é que a ética dela era uma ética baseada em valores que podemos chamar de viciosos. A busca do lucro sem nenhuma contestação, a violência como instrumento de controle e subjugação das minorias, a blindagem do delinquente corporativo (frequentemente na diretoria) e a defenestração de suas vítimas são escolhas que compunham a ética corporativa desse lugar.

Quero voltar ao ditado do meu pai: quem não sabe o que quer, não sabe para onde vai. No caso da ética, conscientes disso ou não, sempre sabemos o que queremos. Porque sempre fazemos escolhas. E elas, inevitavelmente, nos levam a algum lugar. Então, esse ditado nos provoca: você está consciente das escolhas que está fazendo? Sabe mesmo aonde as suas escolhas irão te levar? Sabe se é lá que você quer estar no futuro?

Se você perguntasse ao board da empresa do nosso exemplo, dez anos atrás, se a visão deles era a empresa ser reconhecida como um dos piores lugares do planeta para ser mulher, LGBT ou não- branco, decerto ninguém responderia abertamente que sim. No entanto, a cada ação, a cada decisão, a cada violência e injustiça, era exatamente isso o que estavam dizendo.

Assim, deixamos você pensar sobre onde quer estar daqui a uma década. A verdadeira importância da boa cultura ética nas organizações não é montar o código, executar as burocracias e estar em dia com o compliance. Mas, sim, fazer com que a organização e todos dentro dela possam exercer aquilo que há de melhor em si. E, fazendo isso, ter clareza não só do que rege seu comportamento cotidiano, como também daquilo que é e do que quer ser no futuro.